Texto
para prova de Filosofia - 3º ano
Colégio
Estadual Luiza Ross
Origem
da filosofia e suas características
Filosofia (do grego Φιλοσοφία, literalmente «amor à
sabedoria») é o estudo de problemas fundamentais relacionados àexistência,
ao conhecimento,
à verdade,
aos valores morais e estéticos,
à mente e à linguagem.1 Ao abordar esses problemas, a filosofia
se distingue da mitologia e da religião por sua ênfase em argumentos racionais; por outro lado,
diferencia-se das pesquisas científicas por geralmente não recorrer a
procedimentos empíricos em suas investigações. Entre seus
métodos, estão a argumentação lógica,
a análise conceptual, as experiências de pensamento e outros métodos a priori.
A
filosofia ocidental surgiu na Grécia antiga no século VI
a.C. A partir de
então, uma sucessão de pensadores originais – comoTales, Xenófanes, Pitágoras, Heráclito e Protágoras – empenhou-se em responder,
racionalmente, questões acerca da realidade última das coisas, das origens e
características do verdadeiro conhecimento, da objetividade dos valores morais,
da existência e natureza dos deuses (ou de Deus). Muitas das questões
levantadas por esses antigos pensadores são ainda temas importantes da filosofia contemporânea.
Durante
as Idades Antiga e Medieval,
a filosofia compreendia praticamente todas as áreas de investigação teórica. Em
seu escopo figuravam desde disciplinas altamente abstratas – em que se
estudavam o "ser enquanto ser" e os princípios gerais do raciocínio – até pesquisas sobre fenômenos mais
específicos – como a queda dos corpos e a classificação dos seres vivos.
Especialmente a partir do século XVII,
vários ramos do conhecimento começam a se desvencilhar da filosofia e a se
constituir em ciências independentes com técnicas e métodos próprios (priorizando,
sobretudo, a observação e a experimentação). Apesar
disso, a filosofia atual ainda pode ser vista como uma disciplina que trata de
questões gerais e abstratas que sejam relevantes para a fundamentação das
demais ciências particulares ou demais atividades culturais. A princípio, tais
questões não poderiam ser convenientemente tratadas por métodos científicos.4
Por
razões de conveniência e especialização, os problemas filosóficos são agrupados
em subáreas temáticas: entre elas as mais tradicionais são a metafísica,
a epistemologia,
a lógica,
a ética,
a estética e a filosofia política.
A
filosofia ocidental surgiu na Grécia antiga no século VI
a.C. A partir de então, uma sucessão de pensadores originais –
como Tales, Xenófanes, Pitágoras, Heráclito e
Protágoras –
empenhou-se em responder, racionalmente, questões acerca da realidade última
das coisas, das origens e características do verdadeiro conhecimento, da
objetividade dos valores morais, da existência e natureza dos deuses. Muitas
das questões levantadas por esses antigos pensadores são ainda temas
importantes da filosofia contemporânea. Durante as
Idades Antiga e Medieval,
a filosofia compreendia praticamente todas as áreas de investigação teórica. Em
seu escopo figuravam desde disciplinas altamente abstratas – em que se
estudavam o "ser enquanto ser" e os princípios gerais do raciocínio –
até pesquisas sobre fenômenos mais específicos – como a queda dos corpos e a classificação dos seres vivos.
Especialmente a partir do século XVII,
vários ramos do conhecimento começam a se desvencilhar da filosofia e a se
constituir em ciências independentes com técnicas e métodos próprios
(priorizando, sobretudo, a observação e a experimentação). Apesar disso, a
filosofia atual ainda pode ser vista como uma disciplina que trata de questões
gerais e abstratas que sejam relevantes para a fundamentação das demais
ciências particulares ou demais atividades culturais. A princípio, tais
questões não poderiam ser convenientemente tratadas por métodos científicos.
Por
razões de conveniência e especialização, os problemas filosóficos são agrupados
em subáreas temáticas: entre elas as mais tradicionais são a metafísica,
a epistemologia, alógica,
a ética,
a estética e
a filosofia política.
As atividades a que nos dedicamos
cotidianamente pressupõem a aceitação de diversas crenças e valores de que nem
sempre estamos cientes. Acreditamos habitar um mundo constituído de
diferentes objetos, de diversos tamanhos e diversas cores. Acreditamos que esse
mundo organiza-se num espaço tridimensional e que o tempo segue a sua
marcha inexorável numa única direção. Acreditamos que as pessoas ao redor são
em tudo semelhantes a nós, vêem as mesmas coisas, têm os mesmos sentimentos e
sensações e as mesmas necessidades. Buscamos interagir com outras pessoas, e
encontrar alguém com quem compartilhar a vida e, talvez, constituir família,
pois tudo nos leva a crer que essa é uma das condições para a nossa felicidade.
Periodicamente reclamamos de abusos na televisão, em propagandas e noticiários,
na crença de que há certos valores que estão sendo transgredidos por puro sensacionalismo.
Em todos esses casos, nossas
crenças e valores determinam nossas ações e atitudes sem que eles sequer nos
passem pela cabeça. Mas eles estão lá, profundamente arraigados e extremamente
influentes. Enquanto estamos ocupados em trabalhar, pagar as contas ou
divertir-nos, não vemos necessidade de questionar essas crenças e valores. Mas
nada impede que, em determinado momento, façamos uma reflexão profunda sobre o
significado desses valores e crenças fundamentais e sobre a sua consistência. É
nesse estado de espírito que formularemos perguntas como: “O que é a realidade em
si mesma?”, “O que há por trás daquilo que vejo, ouço e toco?”, “O que é o
espaço? E o que é o tempo?”, “Se o que aconteceu há um centésimo de segundo já
é passado, será que o presente não é uma ficção?”, “Será que tudo o que
acontece é sempre antecedido por causas?”,
“O que é a felicidade? E como alcançá-la?”, “O que é o certo e o errado?”, “O
que é a liberdade?”.
Essas perguntas são tipicamente
filosóficas e refletem algo que poderíamos chamar de atitude filosófica perante
o mundo e perante nós mesmos. É a atitude de nos voltarmos para as nossas
crenças mais fundamentais e esforçar-nos por compreendê-las, avaliá-las e
justificá-las. Muitas delas parecem ser tão óbvias que ninguém em sã
consciência tentaria sinceramente questioná-las. Poucos colocariam em questão
máximas como “Matar é errado”, “A democracia é
melhor que a ditadura”, “A liberdade de expressão e de opinião é
um valor indispensável”. Mas, a atitude filosófica não reconhece domínios
fechados à investigação. Mesmo em relação a crenças e valores que consideramos
absolutamente inegociáveis, a proposta da filosofia é a de submetê-los ao exame
crítico, racional e argumentativo, de modo que a nossa adesão seja
restabelecida em novo patamar. Em outras palavras, a proposta filosófica é a de
que, se é para sustentarmos certas crenças e valores, que sejam sustentados de
maneira crítica e refletida.
Muitos autores identificam essa
atitude filosófica com uma espécie de habilidade ou capacidade de se admirar
com as coisas, por mais prosaicas que sejam. Na base da filosofia, estaria a
curiosidade típica das crianças ou dos que não se contentam com respostas
prontas. Platão,
um dos pais fundadores da filosofia ocidental, afirmava que o sentimento de
assombro ou admiração está na origem do pensamento filosófico:
"A
admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a
filosofia."
|
Na mesma linha, afirmava Aristóteles:
"Os
homens começam e sempre começaram a filosofar movidos pela admiração."
— Aristóteles, Metafísica, I 2.9
|
Embora essa capacidade de
admirar-se com a realidade possa estar na origem do pensamento filosófico, isso
não significa que tal admiração provoque apenas e tão somente filosofia. O
sentimento religioso, por exemplo, pode igualmente surgir dessa disposição: a
aparente perfeição da natureza, as sincronias dos processos naturais, a complexidade
dos seres vivos podem
causar profunda impressão no indivíduo e levá-lo a indagar se o responsável por
tudo isso não seria uma Inteligência Superior. Uma paisagem que a todos
parecesse comum e sem atrativos poderia atrair de modo singular o olho do
artista e fazê-lo criar uma obra de arte que revelasse nuances que escaparam ao
olhar comum. Analogamente, embora a queda de objetos seja um fenômeno
corriqueiro, se nenhum cientista tivesse considerado esse fenômeno
surpreendente ou digno de nota, não saberíamos nada a respeito da gravidade.
Esses exemplos sugerem que, além de certa atitude em relação à nossa
experiência da realidade, há um modo de interpelar a realidade e nossas crenças
a seu respeito que diferenciariam essa investigação da religião,
da arte e
da ciência.
Ao contrário da religião, que se
estabelece entre outras coisas sobre textos sagrados e sobre a tradição, a
filosofia recorre apenas à razão para
estabelecer certas teses e refutar outras. Como já mencionado acima a filosofia
não admite dogmas.
Não há, em princípio, crenças que não estejam sujeitas ao exame crítico da
filosofia. Disso não decorre um conflito irreconciliável entre a filosofia e a
religião. Há filósofos que argumentam em favor de teses caras às religiões,
como, por exemplo, a existência de Deus e a imortalidade da alma. Mas um argumento
propriamente filosófico em favor da imortalidade da alma apresentará como
garantias apenas as suas próprias razões: ele apelará somente ao assentimento
racional, jamais à fé ou à obediência.
Os artistas assemelham-se aos
filósofos em sua tentativa de desbanalizar a nossa experiência do mundo e
alcançar assim uma compreensão mais profunda de nós mesmos e das coisas que nos
cercam. Mas a forma em que apresentam seus resultados é bastante diferente. Os
artistas recorrem à percepção direta
e à intuição; enquanto a filosofia tipicamente apresenta seus
resultados de maneira argumentativa, lógica e abstrata.
Mas, se essa insistência na razão
diferencia a filosofia da religião e da arte, o que a diferenciaria das
ciências, uma vez que também essas privilegiam uma abordagem metódica e
racional dos fenômenos? A diferença é que os problemas tipicamente filosóficos
não podem ser resolvidos por observação e experimentação. Não há experimentos e
observações empíricas que possam decidir qual seria a noção de “direitos
humanos” mais adequada do ponto de vista da razão. O mesmo vale para
outras noções, tais como “liberdade”, “justiça” ou “falta moral”. Não há como
resolver em laboratório questões como: “quando tem início o ser humano?”, “os
animais podem ser sujeitos de direitos?”, “em que medida o Estado pode
interferir na vida dos cidadãos?”, “As entidades microscópicas postuladas pelas
ciências têm o mesmo grau de realidade que os objetos da nossa experiência
cotidiana (pessoas, animais, mesas, cadeiras, etc.)?”. Em resumo, quando um
tópico é defendido ou criticado com argumentos racionais, e essa defesa ou
ataque não pode contar com observações e experimentos para a sua solução,
estamos diante de um debate filosófico.
Etimologia
Filósofo em Meditação, deRembrandt (detalhe).
A palavra "filosofia"
(do grego) é uma
composição de duas palavras: philos (φίλος) e sophia (σοφία).
A primeira é uma derivação de philia(φιλία) que significa amizade,
amor fraterno e respeito entre os iguais; a segunda significa sabedoria ou
simplesmente saber. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor
e respeito pelo saber; e o filósofo, por sua vez, seria aquele que ama e busca
a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
A tradição atribui ao
filósofo Pitágoras de Samos (que viveu no século V a.C.) a criação da palavra.
Conforme essa tradição, Pitágoras teria criado o termo para modestamente
ressaltar que a sabedoria plena e perfeita seria atributo apenas dos deuses; os
homens, no entanto, poderiam venerá-la e amá-la na qualidade de filósofos.
A palavra philosophía não
é simplesmente uma invenção moderna a partir de termos gregos,12 mas, sim, um empréstimo
tomado da própria língua grega. Os termos φιλοσοφος (philosophos) e
φιλοσοφειν (philosophein) já teriam sido empregados por alguns pré-socráticos13(Heráclito, Pitágoras e Górgias) e pelos historiadores Heródoto e Tucídides. Em Sócrates e Platão, é acentuada a
oposição entre σοφία e φιλοσοφία, em que o último termo exprime certa modéstia
e certo ceticismo em relação ao conhecimento
humano.
Conceito de filosofia
Para os eruditos o conceito de
"filosofia" sofreu, no transcorrer da história, várias alterações e
restrições em sua abrangência. As concepções do que seja a filosofia e quais
são os seus objetos de estudo também se alteram conforme a escola ou movimento
filosófico. Essa variedade presente na história da filosofia e nas escolas e correntes
filosóficas torna praticamente impossível elaborar uma definição universalmente
válida de filosofia. Definir a filosofia é realizar uma tarefa metafilosófica. Em outras palavras, é fazer
uma filosofia da filosofia. O sociólogo e filósofo alemão Georg Simmel ressaltou esse ponto ao
dizer que um dos primeiros problemas da filosofia é o de investigar e
estabelecer a sua própria natureza. Talvez a filosofia seja a única disciplina
que se volte para si mesma dessa maneira. O objeto da física não é, certamente, a própria
ciência da física, mas os fenômenos ópticos e elétricos, entre outros. A filologia ocupa-se de registros
textuais antigos e da evolução das línguas, mas não se ocupa de si mesma. A
filosofia, no entanto, move-se neste curioso círculo: ela determina os
pressupostos de seu método de pensar e os seus propósitos através de seus
próprios métodos de pensar e propósitos. Não há como apreender o conceito de
filosofia fora da filosofia; pois somente a filosofia pode determinar o que é a
filosofia.
Platão e Aristóteles concordam em
caracterizar a filosofia como uma atividade racional estimulada pelo assombro
ou admiração. Mas, para Platão, o assombro é provocado pela instabilidade e
contradições dos seres que percebemos pelos sentidos. A filosofia, no quadro
platônico, seria a tentativa de superar esse mundo de coisas efêmeras e
mutáveis e apreender racionalmente a realidade última, composta por formas eternas e imutáveis que,
segundo Platão, só podem ser captadas pela razão. Para Aristóteles, ao
contrário, não há separação entre, de um lado, um mundo apreendido pelos
sentidos e, de outro lado, um mundo exclusivamente captado pela razão. A
filosofia seria uma investigação das causas e princípios fundamentais de uma
única e mesma realidade. O filósofo, segundo Aristóteles, “conhece, na medida
do possível, todas as coisas, embora não possua a ciência de cada uma delas por
si”.15 A filosofia almejaria o
conhecimento universal, não no sentido de um acúmulo enciclopédico de todos os
fatos e processos que se possam investigar, mas no sentido de uma compreensão
dos princípios mais fundamentais, dos quais dependeriam os objetos particulares
a que se dedicam as demais ciências, artes e ofícios. Aristóteles considera que
a filosofia, como ciência das causas e princípios primordiais, acabaria por
identificar-se com a teologia, pois Deus
seria o princípio dos princípios.
As definições de filosofia
elaboradas depois de Platão e Aristóteles separaram a filosofia em duas partes:
uma filosofia teórica e uma filosofia prática. Como reflexo da busca por
salvação ou redenção pessoal, a filosofia prática foi gradativamente se
tornando um sucedâneo da fé religiosa e acabou por ganhar precedência em
relação à parte teórica da filosofia. A filosofia passa a ser concebida como
uma arte de viver, que forneceria aos homens regras e prescrições sobre como
agir e como se portar diante das inconstâncias do mundo. Essa concepção é muito
clara em diversas correntes da filosofia helenística, como, por exemplo,
no estoicismo e no neoplatonismo.
As definições de filosofia
formuladas na Antiguidade persistiram na época de disseminação e consolidação
do cristianismo, mas isso não impediu que as
concepções cristãs exercessem influência e moldassem novas maneiras de se
entender a filosofia. As definições de filosofia elaboradas durante a Idade Média foram coordenadas aos serviços
que o pensamento filosófico poderia prestar à compreensão e sistematização da
fé religiosa; e, desse modo, a filosofia passa a ser concebida como “serva da
teologia” (ancilla theologiae).
Talvez não haja uma resposta
categórica à pergunta “O que é filosofia?”.16 Os filósofos divergem entre
si sobre o que fazem, os problemas filosóficos ramificam-se indefinidamente e
os métodos variam conforme a concepção do que seja o trabalho filosófico.
Talvez a afirmação de Simmel de que só é possível entender a filosofia no
âmbito da filosofia possa ser tomada como uma advertência quando contrastada
com o amplo espectro de conceitos sobre a sua natureza: ao adotar uma das
diferentes orientações filosóficas, tratamos de determinados problemas
e adotamos determinados métodos para tentar esclarecê-los;
mas, dado que há outras concepções, conforme outros métodos e
conforme outras finalidades, devemos modestamente reconhecer que essas
concepções alternativas têm o mesmo direito de ostentar o título de “filosofia”
que a nossa concepção.
Métodos da filosofia
Os trabalhos filosóficos são
realizados mediante técnicas e procedimentos que integram os cânones do
pensamento racional. Tradicionalmente, a filosofia destaca e privilegia a
argumentação lógica, em linguagem natural ou em linguagem simbólica, como a
ferramenta por excelência da apresentação e discussão de teorias filosóficas. A
argumentação lógica está associada a dois elementos importantes: a articulação
rigorosa dos conceitos e a correta concatenação das premissas e conclusões, de modo que essas últimas sejam
derivações incontestáveis das primeiras. Toda a ideia filosófica relevante é
inevitavelmente submetida a escrutínio crítico; e a presença de falhas na
argumentação (falácias, sofismas, etc.) é frequentemente o primeiro
alvo das críticas. Desse modo, o destino de uma tese qualquer que não esteja
amparada por argumentos sólidos e convincentes será, frequentemente, a severa
rejeição por parte da comunidade filosófica. Embora a reflexão sobre os
princípios e métodos da lógica só tenha sido realizada pela primeira vez por
Aristóteles, a ênfase na argumentação lógica e na crítica à solidez dos
argumentos é uma característica que acompanha a filosofia desde os seus
primórdios. A própria ruptura entre o pensamento mítico-religioso e o
pensamento racional é assinalada pela adoção de uma postura argumentativa e
crítica em relação às explicações tradicionais. Quando Anaximandro rejeitou as explicações de
seu mestre – Tales de Mileto – e propôs concepções alternativas sobre a
natureza e estrutura do cosmos, o pensamento humano dava seus primeiro passos
em direção ao debate franco, público e aberto de ideias, orientado apenas por
critérios racionais de correção, como forma destacada de se aperfeiçoar o
conhecimento; e abandonava, assim, as narrativas tradicionais sobre a origem e
composição do universo, apoiadas na autoridade inquestionável da tradição ou em
ensinamentos esotéricos.
Mas não se podem restringir os
métodos da filosofia apenas à ênfase geral na argumentação lógica e na crítica
sistemática às teorias apresentadas. Nas grandes tradições da história da
filosofia, podem ser identificadas duas orientações bem abrangentes, cujos
objetivos e técnicas tendem a diferir radicalmente: existem as escolas que
privilegiam uma abordagem analítica dos problemas filosóficos
e aquelas que optam por uma abordagem predominantemente sintética ou sinóptica.
A orientação analítica é exemplificada
nos trabalhos filosóficos que se dedicam à decomposição de um conceito em suas
partes constituintes e ao exame criterioso das relações lógicas e conceptuais
explicitadas pela análise. O exemplo clássico é a análise do conceito de conhecimento.
A reflexão sobre a natureza do conhecimento levou os filósofos a decompor a
noção de conhecimento em três noções associadas: crença, verdade e justificação. Para que algo seja
conhecimento é imprescindível que seja antes uma crença – em outras palavras, o
conhecimento é uma espécie diferenciada
do gênero mais abrangente da crença. A
pergunta óbvia que essa primeira constatação sugere é: o que diferencia, então,
o conhecimento das demais formas de crença? Nesse ponto, o exame do conceito
conduz a duas noções distintas. Em primeiro lugar, à noção de verdade.
Intuitivamente separamos as crenças falsas das verdadeiras. É por isso que
mantemos a crença de que Papai Noel existe num patamar diferente da crença de
que a Lua gira em torno da Terra – quem sustenta a primeira, tem apenas uma
crença; quem sustenta a última, provavelmente sabe algo sobre o sistema solar,
pois exprime uma crença verdadeira. Mas, para que seja promovida à condição de
conhecimento, a crença precisa de algo mais: ela precisa ser apoiada por alguma
espécie de justificação. Além de sustentar uma crença verdadeira, o sujeito
deve ser capaz de apresentar os meios ou as fontes, consideradas universalmente
legítimas, que lhe propiciaram chegar à crença em questão. Feito esse exame, a
conclusão é a célebre fórmula: o conhecimento é crença verdadeira
justificada. Nesse e em muitos outros casos envolvendo noções
filosoficamente relevantes, o trabalho de análise é capaz de explicitar
pressupostos importantes implicitamente presentes no uso dos conceitos.
A outra orientação – a sintética
– percorre o caminho oposto ao da análise. Os adeptos dessa orientação buscam
elaborar uma síntese de várias noções relevantes e apresentá-las como um todo
harmônico. Às vezes chamada de “filosofia especulativa”, essa
orientação filosófica pretende revelar princípios universais que possam reunir
organicamente vários elementos díspares, que aparentemente não guardam relações
relevantes entre si. Um caso paradigmático dessa orientação é a filosofia
hegeliana, cujo fito é integrar numa dinâmica panteísta a evolução das mais diversas
formas de manifestação da cultura humana –
artes, leis, governos, religiões, ciências e filosofias.
Desde o surgimento da ciência
moderna, vários filósofos buscaram separar a investigação filosófica da
investigação científica por meio de uma caracterização dos métodos peculiares à
filosofia. Como as ciências especiais privilegiam a investigação empírica,
especialmente por adoção de métodos experimentais, defendeu-se que a adoção de
métodos a priori (isto é, de métodos que antecedem a
investigação empírica ou são dela independentes) seria o traço
definidor do trabalho filosófico. Nos casos da argumentação lógica, da análise
conceptual e da síntese compreensiva não há necessidade de observação dos
fenômenos para que se decida se uma conclusão é ou não é logicamente correta,
se um conceito está sendo ou não corretamente empregado ou se uma visão
sinóptica é ou não é incoerente. Isso não implica um divórcio entre a ciência e
a filosofia. Ao contrário, implica que os filósofos estão aptos a analisar os
conceitos e argumentos das ciências especiais, e, nesse domínio,
podem prestar um serviço relevante ao aperfeiçoamento das teorias científicas.
O outro método – o dos argumentos
transcendentais – foi concebido por Kant, e consiste em tomar como dados os
fatos da experiência, e deduzir coisas que não são passíveis de ser
experienciadas, mas que constituem a própria condição de possibilidade daqueles
fatos. Com essa espécie de argumento, Kant concluiu, por exemplo, que a forma
pura do espaço é uma das condições necessárias pressupostas pela experiência
dos objetos externos, pois sem ela tal experiência seria impossível.
Embora o emprego da lógica
formal, da análise conceptual e dos experimentos mentais sejam constantes na
filosofia contemporânea, predomina hoje, sobretudo na tradição analítica, a
orientação que se convencionou chamar de naturalismo
filosófico. Essa orientação tem suas origens nos trabalhos do
filósofo americano Willard Van
Orman Quine (1908-2000) que criticam a distinção entre questões
conceptuais e empíricas. Os adeptos do naturalismo rejeitam a suposição de que
a filosofia se diferencie das ciências por um conjunto de métodos próprios: os
problemas filosóficos e os científicos pertencem a uma única e mesma esfera e,
portanto, os métodos científicos, historicamente bem-sucedidos, devem também
ser aplicados à problemática filosófica.
Disciplinas filosóficas
A filosofia é geralmente dividida em áreas de
investigação específica. Em cada área, a pesquisa filosófica dedica-se à
elucidação de problemas próprios, embora sejam muito comuns as interconexões.
As áreas tradicionais da filosofia são as seguintes:
·
Metafísica: ocupa-se da elaboração de
teorias sobre a realidade e sobre natureza fundamental de todas as coisas. O
objetivo da metafísica é fornecer uma visão abrangente do mundo – uma visão
sinóptica que reúna em si os diversos aspectos da realidade. Uma das subáreas
da metafísica é a ontologia (literalmente,
a ciência do "ser"), cujo tema principal é a elaboração de escalas de
realidade. Nesse sentido, a ontologia buscaria identificar as entidades básicas
ou elementares da realidade e mostrar como essas se relacionam com os demais
objetos ou indivíduos - de existência dependente ou derivada.30
·
Epistemologia ou teoria do
conhecimento: é a área da filosofia que estuda a natureza do conhecimento, sua origem e seus limites.
Dessa forma, entre as questões típicas da epistemologia estão: “O que
diferencia o conhecimento de outras formas de crença?”, “O que podemos
conhecer?”, “Como chegamos a ter conhecimento de algo?”.30
·
Lógica: é a área que trata das estruturas formais do
raciocínio perfeito – ou seja, daqueles raciocínios cuja conclusão preserva a
verdade das premissas. Na lógica são estudados, portanto, os métodos e
princípios que permitem distinguir os raciocínios corretos dos raciocínios
incorretos.31
·
Ética ou filosofia moral: é a área da
filosofia que trata das distinções entre o certo e o errado, entre o bem e o
mal. Procura identificar os meios mais adequados para aprimorar a vida moral e
para alcançar uma vida moralmente boa. Também no campo da ética dão-se as
discussões a respeito dos princípios e das regras morais que norteiam a vida em
sociedade, e sobre quais seriam as justificativas racionais para adotar essas
regras e princípios.30
·
Filosofia política: é o ramo da filosofia que
investiga os fundamentos da organização sociopolítica e do Estado. São
tradicionais nessa área, as hipóteses sobre o contrato original que teria dado
início à vida em sociedade, instituído o governo, os deveres e os direitos dos cidadãos. Muitas dessas situações hipotéticas
são elaboradas no intuito de recomendar mudanças ou reformas políticas aptas a
aproximar as sociedades concretas de um determinado ideal político.30
·
Estética ou filosofia da arte: entre as
investigações dessa área, encontram-se aquelas sobre a natureza da arte e da
experiência estética, sobre como a experiência estética se diferencia de outras
formas de experiência, e sobre o próprio conceito de belo.30
·
Metafilosofia: é a "filosofia da
filosofia". Procura determinar, entre outras coisas, o que é, suas
limitações e o objetivo da filosofia enquanto ramo do saber humano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário