sábado, 4 de setembro de 2010

CONSCIENCIA E CONSCIENCIA SOCIAL - ALIENAÇÃO SOCIAL - TIPOS DE ALIENAÇÃO SOCIAL


Faculdades Unidas do Vale do Araguaia
Curso: Serviço Social
Disciplina: Fundamentos Filosóficos aplicados ao Serviço Social
Série: 1º ano Ano: 2010
Docente: Profº. Mestrando João Bôsco Almeida Cruz

Conteúdo para o 3º bimestre

1. CONSCIÊNCIA E CONSCIÊNCIA SOCIAL

Antes de procurar uma definição de “consciência social” é oportuno buscar um entendimento do que é “consciência”. Consciência é um termo que provém do latim “conscientia” que significa conhecimento, o cumprimento do dever, o zelo ao se executar um trabalho e a responsabilidade do que se faz. Partindo desta significação conclui-se que “consciência” tem estreita ligação com o entendimento do que é bom e do que é ruim, do bem e do mal; envolvendo em sua significação o entendimento, a moralidade, a ética e sendo assim, a consciência assume um papel de crítica e juízo dos atos do homem, sendo também um agente de proibição ou permissão dos seus atos e, como conseqüência disso, passa a ser um agente de julgamento dos atos à sua volta, aprovando ou reprovando tudo o que acontece e tudo isso conceituado de acordo com os valores e conhecimentos em vigor. Então: “consciência é um agente de critério para as ações e toda consciência é intencional e é quem dá sentido às ações”.

O homem (Homo sapiens) é a única criatura racional, portanto, que pensa e tem consciência de seus atos. O homem é capaz de dar um significado do que toma consciência, é capaz de transmitir esse significado e é capaz de idealizar e projetar, antecipando assim ações e reações futuras.

Após termos entendimento de tudo isso podemos até por dedução definir “consciência social” como ”a forma com a qual o homem lida com as regras que regem a sua vida e é o que organiza e dá sentido ao que é vivido coletivamente, ou seja, organizando e dando sentido à vida social ou ao viver em sociedade”.

O homem ao tornar-se racional, e assim consciente, passou a adquirir e acumular conhecimento e ao transformar esse conhecimento em cultura passou a transformar o mundo em que vive, moldando-o de acordo com as suas necessidades e aspirações. Da consciência individual emerge a consciência social ou coletiva. Ao existir uma vida social, o homem como ser racional e consciente, ocupa-se em entender essa vida social, a planejar ações que a harmonizem, a procurar evitar as ações que a desarmonizam e eis que surge a sociologia como a “ciência que estuda as relações sociais”.

A sociologia vê a consciência como coletiva e não é que ela exclua a consciência individual, mas o seu objeto de estudo e a sua razão de ser é o que é coletivo, encarando o que é individual como parte desse coletivo, ou seja, a sociologia ocupa-se da “consciência social” e é esta consciência social que mantém a estrutura da sociedade e que busca através da harmonia coletiva possibilitar que cada homem alcance a harmonia em si mesmo.



2. ALIENAÇÃO SOCIAL



Dois autores são importantes para entender os conceitos de Alienação: Marx e Durkheim.

O indivíduo alienado é aquele que se submete aos valores e instituições que o cerca. Submete-se cegamente sem haver um questionamento.

Alienação seria um problema de legitimidade do controle social, um problema de poder. Ela torna o indivíduo separado da sociedade e, para Marx, quando o indivíduo aliena-se da sociedade ele aliena-se de si mesmo.

Hoje em dia temos vários motivos que alienam, entre eles estão: religiões, partidos políticos, comunicação de massa entre outros. Portanto, para nos proteger contra esse mal, devemos nos prevenir, tendo um senso crítico e ficando atento ao que tentam nos impor a cada dia que passa.



2.1 Algumas formas de alienação



2.1.1- Religião

A Religião é um dos principais fatores de alienação de um indivíduo. Conseguem encontrar nela uma verdade diferente da ciência e muitas vezes, verdades que a ciência também não pode dar. Verdades que são infundadas e muitas vezes batem de frente com o pensamento racional científico.

Mas por que a religião é um fato de alienação? Justamente pelas suas verdades aceitas sem questionamento. A justificativa é sempre: "está escrito na bíblia", ou "deus nos revelou". Não há uma busca efetiva pela verdade, pois esta já foi supostamente "revelada".

A frase mais perfeita para demonstrar essa alienação pela religião, misticismo, ou coisas deste tipo é a de Karl Marx: "A religião é o ópio do povo". esta frase consegue resumir o mal, a cegueira e a dependência causada no indivíduo por ela.

Mas muito se diz hoje em dia, que precisamos de religião para educarmos nossos filhos ou para estabelecermos uma sociedade melhor e coisas assim. Será que isso é realmente necessário? Devemos abandonar o racionalismo para educarmos nossos filhos com figuras mitológicas? É correto guiarmos uma sociedade para uma realidade ilusória, cheio de esperanças inalcançáveis, esperanças essas que muitas vezes são necessários agressões contra o corpo, sacrifícios infundados e idolatrias exacerbadas para "tentar" alcançá-las?

Bem, realmente religião e ciência não combinam, pois uma conhece a verdade, e a outra está sempre a sua procura. É por esse motivo que as religiões e seitas têm muitos adeptos, pois é mais fácil aceitar a verdade imposta, do que procurar por ela.

Além disso, voltando ao assunto da alienação, a religião tira a atenção dos indivíduos para os verdadeiros problemas que acercam a sociedade. Assistia a um programa evangélico na televisão, quando um pastor começou a fazer propaganda da revista da igreja: "É uma revista muito boa, custa R$ 9,00 e não deixa nada a dever para revistas como "Veja"ou "Isto É". Só que nossa revista fala de assuntos que nos importam, não falamos desses assuntos, como: Política, economia...... Falamos do que realmente precisamos, da nossa fé, nossa alma e de encontros com Deus , pois são esses assuntos que precisamos estar cientes". Isto é um caso de Alienação explícita, porém, muitas vezes os fatos nos são entregues de maneira implícita e, devemos reconhecê-los para nos proteger desse verdadeiro mal, que não é um "pecado" ou um "karma", mas sim uma patologia social.

Por que devemos rezar junto com o Padre Marcelo no programa do Gugu, para acabar com a violência urbana? Não seria "mais eficaz" exigirmos melhorias na segurança pública para o governo? Está aí a questão da alienação enquanto um mal social: Devemos orar ou agir? Esta é a questão. Enquanto se ora, não se luta. Mas muitos podem dizer que algumas igrejas fazem trabalhos significativos para a sociedade. Não devemos desmerecer essas ações isoladas, mas devemos observar a que preço isto é feito.

O indivíduo em uma religião muitas vezes não consegue enxergar a verdade, por essa instituição já ter-lhe colocados verdades previamente escolhidas e moldadas. Ele fica à mercê dos sacerdotes, pastores, entre outros e por se entregarem à uma fé cega, tornam-se escravos de "Deus", ou de seus interlocutores na terra.

A religião é importante, mas não deve ser aceitos sem ser questionados alguns elementos.



2.1.2- Comunicação de Massa



Não há dúvidas que os meios de comunicação em massa são responsáveis por alienar indivíduos. E, para entender isso, é necessário entender quem produz essa comunicação de massa, que é chamado de Indústria Cultural.

A massa necessita sempre de algo "novo", porém, produzir sempre obras novas é muito caro. A Indústria Cultural utiliza então o artifício da padronização, modificando apenas o rótulo de uma obra e utilizando sempre seus moldes. Isso é oferecido à massa como algo inédito, aceitando-a (Lembre-se da famosa frase usada nos meios de comunicação: "nada se cria; tudo se copia..."). Por exemplo, a obra "Romeu e Julieta" foi algo novo quando Shakespeare o escreveu. O filme "Titanic"também surgiu como algo novo, porém, as duas obras são semelhantes. O filme "Titanic" seguiria a mesma linha que a de "Romeu e Julieta", mudando apenas os artistas e o local dos fatos: "Um jovem se apaixona por uma garota, mas não pode ficar com ela por causa de uma tragédia". Esse roteiro acontece em inúmeras obras "Hollywoodianas". Copia-se o que já foi novo e fez sucesso e vende-se como inédito. Isso é a padronização de obras. Não acontece apenas em filmes, acontece em todos os meios da comunicação: rádio, tv, internet, jornal...

Essa palavra-chave: "padronizar"; é a palavra necessária para se entender a dominação. Não há como dominar um grupo que: "fala 300 línguas diferentes; tem hábitos diferentes a cada esquina; utiliza 8 tipos de moedas diferentes; possui 55 diferentes religiões principais". É preciso transformar isso em uma unidade padronizada para dominá-la. Os indivíduos à serem dominados devem agir, pensar, se vestir e gostar das mesmas coisas, assim é mais fácil centrar seus objetivos e submeter esse grupo à seus interesses.

E o que é dominar? É justamente subjugar alguém ou algum grupo. Ao fazer isso, tira-se a autonomia desse indivíduo ou grupo, tornando-o manipulável e, dessa forma, o objeto da manipulação aliena-se, pois está vendo o que deve ser visto, ouvindo o que deve ser ouvido e lendo o que deve ser lido - segundo seu dominante.

Comunicação de massa, portanto, é um produto da indústria cultural, com o objetivo de alienar grupos para conquistar cada vez mais poder para os que estão no topo dessa indústria. É o objeto com que as classes dominantes utilizam para subjugar um povo.



2.1.3- Ideologias



Segundo Martins e Aranha, ideologia significa "o conjunto de idéias sistematizadas que justificam determinadas práticas".

Gramisci dizia que há ideologias capazes de modificar as situações históricas, organizando homens e dando-lhes consciência de luta.

Marx já vê que não são as idéias que movem o mundo, mas sim as situações das condições econômicas em que estas se encontram.

Hoje em dia, vemos inúmeros discursos ideológicos. É o caso de partidos políticos por exemplo. Esse partido pode aparecer com um discurso de que se a polícia fosse mais severa, a violência urbana diminuiria. Será? A violência urbana não estaria ligada também a outros fatores como socio-econômicos? Bem, se você estiver encantado com o discurso do partido, certamente iria ganhar seu voto. Mas se você não se deixa cegar pela ideologia desse partido e começar a observar todo o contexto em que a violência está inserida, talvez esse partido não ganhe mais seu voto.

A ideologia aliena. E estamos constantemente sendo bombardeados pela ideologia dos estratos superiores da sociedade. E o que ela causa? Cegueira. No exemplo anterior do partido político, uma pessoa embriagada por aquela ideologia, terá a certeza de que se a polícia "bater"mais, a violência diminuirá. Esse indivíduo não enxergaria a situação que precede essa violência e estaria enxergando apenas um aspecto menor que seria a maior agressividade da polícia. Vai deixar de observar quão amplo e complexo é o tema da violência urbana.

Outro exemplo seria quando havia a guerra-fria. Nessa época, um indivíduo americano (dos EUA!!!) achava que o mal do planeta eram os comunistas, os soviéticos "comedores de criancinhas", pois havia uma ideologia do estado para que essa imagem se mantivesse. Já na URSS, um soviético pensaria as mesmas coisas de um americano. Por causa de duas ideologias antagônicas houve um impasse: Quem era o malvado da estória? A ideologia cegara a ambos sem poderem discutir realmente os problemas maiores que envolviam a situação. estavam o soviético e o americano alienados aos reais problemas do conflito.

Muitas vezes a ideologia, além de ser totalmente "má", torna-se positiva por unir grupos para atingirem certos objetivos, porém, mesmo assim ela continuará exercendo seu papel alienante.

Mais uma vez digo que a ideologia aliena e, devemos nós saber como se precaver dela e o que de bom dela poder retirar. Devemos estar atento e filtrar toda mensagem de cunho ideológico que nos bombardeia todos os dias.



2.1.4Trabalho Alienado



Será que o trabalho aliena o indivíduo? Para Marx existe sim o trabalho alienado. Este seria o trabalho que a sociedade industrial criou, a sociedade dominada pela produção de mercadorias. O trabalho que rompe a ligação entre o homem e sua atividade vital.

Marx descreveu algumas características do trabalho alienados, que aqui estão, citadas por Coutinho, M. C. :

• "a alienação e o caráter fortuito do trabalho em relação ao sujeito trabalhador";

• "a alienação e o caráter fortuito do trabalho em relação ao objeto dele";

• "a determinação absoluta do trabalhador pelas necessidades, já que o trabalho (...) não tem para ele outro significado que ser uma fonte de satisfação de suas necessidades, enquanto ele só existe para elas como escravo de suas necessidades";

• "resumir o trabalhador à luta pela subsistência, fazendo com que ele (...) destine sua vida a adquirir meios de vida".

Estão aí as características do trabalho alienado segundo Marx. Características estas que separam o homem de sua naturalidade.

Quem nunca assistiu ao filme "Tempos Modernos" de Charles Chaplin? Este filme mostrava explicitamente o trabalho em sua forma de alienação. O indivíduo trabalhava em uma fábrica de peças e fazia sempre a mesma coisa: apertava roscas. Mas não sabia para quê? Qual era a finalidade daquilo? Ele era um escravo do trabalho. Não havia uma finalidade para que estivesse fazendo aquilo, a não ser receber o salário no final do mês.

Logicamente, o exemplo é de um filme, mas que não foge da realidade de hoje. Veja nas indústrias. Trabalhadores fazendo repetições sem conhecer muitas vezes o produto final daquele parafuso que ele aperta incansavelmente todos os dias. Sua realidade torna-se limitada e esse trabalho acaba por desumanizar o indivíduo, fazendo-o trabalhar como escravos de suas necessidades.

Podemos disso tirar uma conclusão que, num cenário amplo, a sociedade capitalista aliena o ser humano.

O trabalho realmente pode alienar um indivíduo e, por conseqüência disto, pode alienar-se do mundo por estar vivendo dentro de um espaço limitado. seu conhecimento pode não ir mais longe do que apertar um simples parafuso. E será que um trabalhador como esse consegue discernir a realidade social em que vive?

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