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Para que serve a verdade?
Para que serve a verdade? O livro apresenta um debate ocorrido na Sorbonne, em 2002, entre Pascal Engel e Richard Rorty. Com trajetórias filosóficas opostas, Pascal Engel inicia os estudos com Heidegger e Deleuze e direciona-se para Tarski e Ramsey, enquanto Rorty começa com Ayer e Carnap e termina escrevendo sobre Heidegger e Derrida. O tema em questão é saber se há o "conhecimento objetivo". A tese defendida por Rorty consiste na superação do debate realismo/antirrealismo, visto que tal debate não possui, segundo ele, incidência prática. Pascal Engel inicia citando Bernard Williams em "Verdade e veracidade" para apresentar o antagonismo da contemporaneidade: a desconfiança e a necessidade de confiança. Ao mesmo tempo em que não cremos mais na verdade, temos sede de verdade. Em sua fala Critica as teses de Rorty e do pragmatismo em geral, mostrando as dificuldades resultantes de se assimilar a verdade à utilidade, e formula algumas questões a Rorty, destacando como problemas o deflacionismo e o quietismo derivados da maneira plana de conceber a linguagem, ao que Rorty responde: "Essa é precisamente a maneira pela qual compreendo a linguagem. É um tecido contínuo, que podemos apanhar renunciando a todas as distinções tradicionais. Devemos ter uma concepção plana e homogênea da linguagem. E, com efeito, reconheço como minha uma concepção quietista da linguagem" (p. 53). Rorty define a tese do pragmatismo como a formulada por William James: "se esse debate não tem incidência na prática, então ele também não deve ter incidência filosófica". Também afirma que "se um discurso tem a faculdade de representar o mundo, então todos os discursos têm essa faculdade, dissolvendo a idéia de que algumas atividades humanas podem atingir o conhecimento enquanto outras não". A questão, para Rorty, são as práticas cotidianas: mudar o vocabulário não altera as práticas, afirma ele. O debate prossegue com a apresentação dos argumentos que defendem a tese.

DADOS:
Título: Para que serve a verdade?
Autor: Pascal Engel e Richard Rorty
Ano: 2008
Editora: UNESP
Páginas: 85
ISBN: 978-85-7139-835-1
Valor: R$ 23,00 (vinte e três reais)

Responsável: Monica Aiub 


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A mente segundo Dennett
O novo livro de João Teixeira, A mente segundo Dennett, apresenta as concepções sobre a mente e a consciência propostas por Daniel Dennett, destacando a importância do filósofo no cenário em que se encontra, principalmente pelo fato de sua filosofia da mente estabelecer o diálogo com a ciência, e abrir possibilidades para repensar o estatuto científico da psicologia e suas relações com outras disciplinas, tais como ciência da computação, robótica e neurociência. Para apresentar Dennett, Teixeira traça o cenário de surgimento e consolidação da ciência cognitiva, da inteligência artificial e da filosofia da mente no século XX, situando Dennett na tradição naturalista, compreendendo o pensamento como um dos aspectos da natureza. "Dennett acredita que desta forma poderemos explicar o funcionamento da mente, primeiro "desmontando-a" para depois replicá-la em modelos" (p.15). Entre as peculiaridades do pensamento de Dennett, Teixeira aponta para a superação da oscilação pendular entre materialismo e dualismo, situando o autor na "terceira margem do rio". No primeiro capítulo, intitulado Mente, Teixeira aborda a questão: O que é a mente para Dennett?, afirmando que esta situa-se no domínio do virtual, "nossas mentes são apenas uma interpretação do que ocorre nos nossos cérebros e se manifesta na forma de comportamentos" (p. 29); "Mentes são sistemas intencionais, construções teóricas úteis que permitem a interpretação de organismos ou máquinas" (p. 37). Como sistemas intencionais, as mentes estão, ao mesmo tempo, na natureza e nos olhos do observador. Neste primeiro capítulo são apresentados conceitos chave tais como: sistemas intencionais, folk psychology (como uma estratégia preditiva formulada a partir da observação de padrões de comportamento dos organismos), múltipla instanciação, funcionalismo, token-token identity, apontando a posição de Dennett como um "realismo moderado": "crenças e desejos são como centros de gravidade, ou como o trópico de Capricórnio - ferramentas virtuais que permitem simplificar o comportamento de sistemas extremamente complexos" (p. 64). No segundo capítulo a teoria da consciência de Dennett é apresentada como "uma teoria da natureza do pensamento", que visa explicar como se formam os conteúdos mentais e, por isso, é imanente ao próprio pensamento: "a consciência à qual se refere Dennett é nossa capacidade de elaborar narrativas acerca do que está acontecendo em nossas mentes (ou cérebros)" (p.69). Como uma coleção de experiências conscientes, a consciência dennettiana é um modelo descentralizado, que destitui o "eu-penso", o "administrador central". Teoria dos memes, heterofenomenologia, idéias sobre a natureza dos sonhos, considerando-os como um delírio instantâneo ao acordar, são aspectos abordados no segundo capítulo. O terceiro capítulo, intitulado Dennett e a psicologia, aborda as críticas de Dennett ao behaviorismo, apresentando aproximações e distinções entre seu pensamento e o de Skinner. Ao mesmo tempo, sua teoria dos sistemas intencionais é apresentada como uma hipótese psicológica testável, o que permitirá uma relação íntima e de "mão dupla" com a psicologia, com a ciência cognitiva, com a neurociência. Mindreading, neurônios espelho, hipóteses sobre a natureza e as causa do autismo, estudos em etologia cognitiva são apresentados como exemplos desta relação íntima entre filosofia e ciência no pensamento de Dennett. Com este percurso, Teixeira apresenta a filosofia de Dennett relacionando-a com o trabalho de outros pesquisadores. Mais do que isso, aponta problemas. Conforme afirma o próprio autor, trata-se de "um livro dennettiano sobre Dennett", que privilegia o diálogo com a ciência.

DADOS:
Título: A mente segundo Dennett
Autor: João de Fernandes Teixeira
Ano: 2008
Editora: Perspectiva
Páginas: 152
ISBN: 978-85-273-0843-4
Valor: R$ 35,00 (trinta e cinco reais)

Responsável: Monica Aiub 

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Inteligência Artificial
"Inteligência Artificial" é o título do novo livro de João de Fernandes Teixeira que compõe a coleção "Como ler filosofia", da editora Paulus. A exemplo do título "Como ler a filosofia da mente" (2008), do mesmo autor e coleção, o livro aborda assuntos instigantes - comumente confundidos com os temas de ficção científica cinematográfica -, em linguagem clara e acessível a públicos diversos. Além de permitir uma aproximação ao tema, o livro é uma alternativa ao título "O que é Inteligência Artificial" (1990), também de João Teixeira, há algum tempo esgotado.
Os cinco capítulos que compõem o livro apresentam as principais características, mudanças e teorias da Inteligência Artificial (IA) num roteiro que fundamentará as colocações de implicações reflexiva, feitas por ele no epílogo.
No primeiro capítulo, o autor situa a IA atual como uma tecnologia entre a ciência e a arte cujo objetivo é construir máquinas que pareçam pensar enquanto resolvem problemas, embora no interior de seu funcionamento o tipo de inteligência seja de outra ordem. Isto porque o raciocínio humano já não é modelo para máquinas que reproduzam seu tipo de inteligência. Inteligência trata-se de poder computacional, que aumenta à medida em que as máquinas possam igualar-se ao cérebro humano em termos de velocidade e memória. Para tanto, os empenhos nesta área estão no desenvolvimento de novos materiais, que possibilitem maior potência a fim de que lhe seja empregada o que se denomina "força bruta" (método utilizado pelo Deep Blue, que venceu o campeão enxadrista Gary Kasparov). Algumas das apostas estão no: DNA - por conta de sua semelhança com o HD, no que concerne ao armazenamento de informação -, no computador quântico, e no computador ótico.
No capítulo seguinte é traçado um breve percurso histórico da IA desde seu início "mítico" até os atuais COG, Blue Brain e Jini. Estes últimos têm como objetivo responder às questões sobre o cérebro humano por meio da replicação. No percurso, são pontuados também o producente Simpósio de Hixon, a partir do qual se estabeleceu uma analogia entre o cérebro humano e os computadores, o desenvolvimento do programa O Teorico da Lógica, dos americanos Newell e Simon, e o famoso Eliza. Ao final desse percurso, a filosofia da mente é citada como uma disciplina surgida por conta das questões subjacentes à replicação do cérebro humano, e observa que esta só obterá uma verdade entre teorias monistas e dualistas a partir da própria replicação.
Ainda retomando a história da IA, porém de modo especial, o terceiro capítulo é dedicado a apresentar o Teste de Turing do matemático inglês Alan Turing - que, aliás, será retomado em outros capítulos e apontado no Epílogo como um futuro critério de distinção entre humanos e robôs. São retomados os questionamentos ligados à questão por ele formulada: "Pode uma máquina pensar?". A resposta a esta questão seria dada ao final de um longo diálogo com o computador através de um teclado: se não for possível distinguir se o interlocutor era uma máquina ou ser humano, poder-se-ia concluir que o computador pensa. Em decorrência disso, seria considerado consciente, logo dotado de mente.
O quarto capítulo, "Dos símbolos à parabiose", é ainda uma narrativa histórica sob o aspecto da evolução da IA a partir das influências da concepção de inteligência e mente humanas, que culminaram principalmente em duas espécies de IA: a simbólica e a conexionista. João Teixeira as apresenta mostrando seu contexto, pressupostos e características principais (sucessivamente, capacidade de manipular símbolos e memória, e a busca por criar um modelo simplificado de cérebro, construindo redes neurais a partir de neurônios artificiais). A partir desta discussão, faz uma apreciação a respeito da robótica e da GOFAI como movimentos opostos em função da existência ou não de um corpo; e outra a respeito dos robôs Oz e Kismet criados para ter emoções. O autor aborda ainda a possibilidade de dois tipos de cyborgs provenientes da mistura de humanos e robôs, provenientes da união da Inteligência Artificial com a já citada engenharia genética. Isto se daria "expandindo o cérebro humano através do implante de chip e nanochips ou transformando nossos circuitos cerebrais em supercomputadores" (p 43); montando uma máquina mais poderosa, usando o cérebro humano como base; ou ainda, a partir da cultura de neurônios humanos em superfícies lisas a fim de que se ramifiquem formando o cérebro humano pelas possíveis conexões sinápticas. Contudo, aponta a tendência de retomada das versões simbólicas.
A discussão filosófica a respeito da IA é apresentada no quinto capítulo, tendo como pano de fundo a incompreensão por parte dos filósofos de que "máquinas são, na verdade, grandes realizações da razão humana" (p.47), portanto, lidar com uma máquina é lidar com o aquilo que o ser humano impõe a si mesmo. Teixeira apresenta, então, dois argumentos em oposição à IA. O primeiro é o argumento do quarto chinês, de John Searle, que denuncia a falta de intencionalidade como motivo para se considerar que máquinas não pensam, pois tal característica só se manifesta à medida que sabemos a que são direcionados os nossos estados mentais. A outra objeção é a do insight feita por Penrose, segundo a qual um computador jamais terá um insight (uma compreensão nova e instantânea), apesar de poder gerar novas informações pelo cruzamento das demais armazenadas em sua memória. O autor apresenta o modo como ambas são refutadas pela IA a partir de suas falhas. Logo em seguida, traz uma terceira objeção à inteligência Artificial levantada por alguns biólogos: para eles, máquinas nunca poderão replicar a morfogênese (propriedade dos seres vivos que lhes propicia tornarem-se o que são: desde sempre sabem qual forma irão tomar). A réplica a esta objeção parte da possibilidade de que a forma que temos agora tenha se dado por algo para além de um plano interno de nosso organismo, e termina afirmando a existência de programas que simulam a evolução biológica.
Finalmente, no epílogo, reafirma a reconsideração da Inteligência Artificial simbólica junto com a ideia de replicação da mente humana em dispositivos artificiais. Isto se deve tanto à tecnologia da GOFAI, quanto à robótica. A partir daí, o capítulo final aponta uma série de futuras questões filosóficas surgidas das possíveis mudanças de ordem social, emergidas do desenvolvimento desse modelo. São algumas delas, a diminuição do custo e a superabundância dos bens de consumo básicos; os problemas psicológicos daí decorrentes; o desaparecimento da política; os benefícios conquistados pelo desvelamento do código genético e da natureza humana; a necessidade de uma roboética por conta das relações afetivas entre pessoas humanas e robôs e os direitos destes frente à ânsia humana de superioridade. É neste contexto que testes como o de Turing serão necessários. Para João Teixeira, esse "progresso" é inevitável e até mesmo necessário uma vez que disto depende o progresso humano, pelo conhecimento sobre sua própria espécie então proporcionado. Tais considerações fazem da IA mais que uma simples tecnologia: uma ciência humana, ou uma nova psicologia.

DADOS:
Título: Inteligência Artificial: uma odisséia da mente
Autor: João de Fernandes Teixeira
Ano: 2009
Editora: Paulus
Páginas: 64
ISBN: 978-85-349-3019-2
Valor: R$ 10,00 (dez reais)

Responsável: Márcia Avelino - Graduada em Filosofia pelo Centro Universitário São Camilo, SP; Filósofa Clínica em Formação.
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AS RELAÇÕES HUMANAS
Sêneca escreveu As Relações Humanas em sua velhice quando já se tinha retirado da Corte para sua casa de campo. É uma série de cartas que ele dirige a Lucílio, não apenas um discípulo à distância, mas um amigo com quem ele partilha conhecimentos. A amizade é concebida como uma relação em que as parte se doam em envolvimento profundo, tal como ele diz inicialmente: "tu não poderás ler-me, não poderás lucrar com as minhas cartas se não souberes o que devemos ser um para o outro, se não compreenderes que essa troca de cartas deve também ser uma troca de almas". Assim, as cartas consagradas à amizade é um prelúdio que exorta o discípulo a cultivar com o mestre uma amizade virtuosa e inteira, para em seguida propiciar o desenvolvimento de temas mais aprofundados, aqueles que levarão o amigo à sabedoria. É assim que na seqüência vem os temas da eloqüência e dos livros, da atitude do sábio diante da morte, e, por último, a filosofia. Procura-se conduzir uma alma de qualidade à sabedoria, a discernir os verdadeiros valores, a viver segundo a Razão, a guiá-la para a contemplação da Natureza, portanto do Divino. O verdadeiro conhecimento é aquele que permite descobrir a Natureza e viver em harmonia com ela. Sobretudo, ele nos liberta do medo da morte. É missão do filósofo levar o homem a superar essa angústia. Meditações aprofundadas sobre a morte, sobre a amizade, sobre a filosofia, são encaminhadas a seu destinatário. O professor-amigo é uma chama viva, sempre à procura, dando de si ao outro para dar-se a si mesmo.

Nas relações humanas o perigo é coisa de todos os dias, escreve a Lucílio. Orientava o filósofo que precaver-se bem contra este perigo, estando sempre de olhos bem abertos: não há nenhum outro tão frequente, tão constante, tão enganador! A tempestade ameaça antes de rebentar, os edifícios estalam antes de cair por terra, o fumo anuncia o incêndio próximo: o mal causado pelo homem é súbito e disfarça-se com tanto mais cuidado quanto mais próximo está. Faz-se mal em confiar na aparência das pessoas que a nós nos dirigem: têm rosto humano, mas instintos de feras. Só que nestas apenas o ataque direto é perigoso; se nos passam adiante não voltam atrás à nossa procura. Aliás, orienta Sêneca, somente a necessidade as instiga a fazer mal; a fome ou o medo é que as forçam a lutar. O homem, esse, destrói o seu semelhante por prazer. Tu, contudo, pensando embora nos perigos que te podem vir do homem, pensa também nos teus deveres enquanto homem. Evita, por um lado, que te façam mal, evita, por outro, que faças tu mal a alguém. Alegra-te com a satisfação dos outros, comove-te com os seus dissabores, nunca te esqueças dos serviços que deves prestar, nem dos perigos a evitar. Que ganharás tu vivendo segundo esta norma? Se não evitas que te façam mal, pelo menos consegues que te não tomem por tolo. Acima de tudo, porém, refugia-te na filosofia: ela te protegerá no seu seio, neste templo sagrado viverás seguro ou, pelo menos, mais seguro.

A sabedoria de Sêneca não se limitava a teoria. Sua prática voltava-se para si mesmo, numa passagem ele pergunta: Que progresso já consegui? Comecei a ser amigo de mim mesmo. 


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OS MÉTODOS: O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE
OS MÉTODOS
O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE

Edgar Morin filósofo, sociólogo, epistemólogo, é um pensador contemporâneo transdisciplinar, diz: Não sou daqueles que têm uma carreira, mas dos que têm uma vida (...) Passei ao largo dos amores, ainda que não tenha podido viver sem amor: diria até que, sem alta combustão amorosa, eu não teria jamais tido coragem de escrever O Método. O Prof. Morin não escrevia de uma torre que o separa da vida, mas de um redemoinho que o joga em sua vida e na vida. A aventura do Método preenche sua vida durante três décadas e meia, de 1969 a 20000. Trata-se de um caleidoscópio, uma empreitada epistemológica, uma obra estendida em seis Tomos, em que o Prof. Morin constrói a partir da derrocada do modelo iluminista do fracionamento da realidade para entendê-la, um método que procura elucidar a profundidade do pensamento complexo, a possibilidade de um conhecimento polissêmico, um feixe, inter, multi e transdiciplinar.

Então, vejamos um quadro de cada Tomo do Método. No conjunto da obra O Método, o Prof. Morin aborda a partir do paradigma da complexidade a teoria e o método na construção do saber, do desenvolvimento da ciência. Apresenta-nos como no antigo paradigma a ciência está fechada e manipulada pela tecnologia. Segundo o Prof. Morin a teoria não é conhecimento, ela permite o conhecimento, estando assim a teoria à beira da degradação, achatada e simplificada. Isto decorre por três motivos, constata o Professor a teoria torna-se utilitarista, conservando aquilo que é operacional, desta maneira passa de logos a técnica; a teoria torna-se doutrina e fecha-se cada vez mais à contestação; e ainda a teoria se vulgariza e ?difunde-se à custa desta simplificação de consumo. Aqui mora o perigo que consiste em esvaziar a complexidade.

Assim, o Prof. Morin deixa claro que não há teoria sem método,a teoria quase se confunde com o método ou, melhor, teoria e método são os dois componentes indispensáveis do conhecimento complexo. O método torna-se fundamental pelo fato de organizar a teoria, desta maneira ela pode evitar a retroação, ou seja, a simplificação da teoria, o método guia a razão. Notamos assim, que é impossível desvencilhar o método da teoria, pois toda teoria é teoria na medida em que apresenta um norteador que organize o pensamento, no caso o método, daí quanto mais claro e objetivo apresentar-se o método maior a possibilidade de não banalização da construção teórica. Existe na complexidade uma racionalidade aberta, que reconhece que não há ciência pura, no entanto, esta possibilita uma teoria do sujeito no cerne da ciência, o que abre as portas para uma crítica construtiva do sujeito pela epistemologia complexa, trazendo assim o esclarecimento pela ética.

A obra, o Método se distancia do que Descartes propôs como método. Enquanto este o cerne da questão é a certeza indubitável, o Prof. Morin coloca as possibilidades no horizonte da incerteza, da diversidade, da complexidade que é o homem. Assim o homem e o mundo não transcendem um ao outro, porém se multiplicam se modificam, se transformam, desaparecem e aparecem.

Então, em síntese, O método se apresenta em seis temas, são seis entradas abordando a complexidade humana. O primeiro, a natureza da natureza: formalmente, apresenta uma epistemologia de complexidade. Trabalha a relação entre ciência do homem e ciência da natureza, num contexto de complexidade. "A complexidade é um progresso de conhecimento que traz o desconhecido e o mistério. O mistério não é somente privativo; ele nos libera de toda racionalização delirante que pretende reduzir o real à idéia. Ele nos traz, sob forma de poesia, a mensagem do inconcebível". O segundo, a vida da vida: Centrado na questão do homem, destrona o antropocentrismo: discute a vida existente antes do homem e o próprio homem como produtor e produto de sua espécie. "Ninguém pode basear-se, hoje, na sua pretensão ao conhecimento, numa evidência indubitável ou num saber definitivamente verificado. Ninguém pode construir seu conhecimento sobre uma rocha de certeza. A minha pesquisa de Método parte, não da terra firme, mas do solo que desmorona, adverte o Prof. Morin. O terceiro, o conhecimento do conhecimento: A grande questão é o reducionismo, a fragmentação do saber. Para entender e ser num mundo globalizado, de culturas e interesses tão díspares, o autor evidencia a necessidade de religar as ciências biológicas, físicas e humanas. Os progressos do conhecimento aumentam o paradoxo da separação/comunicação e do fechamento/abertura: quanto mais a organização cognitiva torna-se original, singular, individual, fechada sobre si mesma, separada do mundo, mais está apta a tornar-se objetiva, coletiva, universal, aberta e em comunicação com o mundo. Em paralelo, quanto mais o homem acentua a sua diferença e a sua marginalidade em relação à natureza, mais aumenta as possibilidades de conhecimento da natureza, reflete o filósofo. O quarto, as idéias: habitat, vida, costumes, organização: serve de introdução ao problema da reflexão no mundo contemporâneo - o livro é denso nos aspectos com que aborda as idéias: a ecologia das idéias o equilíbrio entre as idéias que o sujeito desenvolve e as que a cultura, a sociedade, lhe oferece, das quais se apropria e é apropriado por elas; a noosfera vem a se constituir na relação dicotômica e conjunta de autonomia e dependência da vida no pensamento; a noologia estabelece as relações entre a linguagem e a lógica, sua complexidade.. O quinto, a humanidade da humanidade: a identidade humana: é a síntese de uma vida. Todos os temas das obras anteriores de Edgar Morin aparecem reunidos e aprofundados neste quinto e decisivo volume, com uma configuração e um arranjo inteiramente novos. Este livro aborda o destino da identidade humana, em jogo na crise planetária em curso. O Prof. Morin trabalha as condições em que a identidade humana é construída; suas interrelações social, cultural e política, o contexto histórico e planetário. Quem é o homem na relação com o outro e consigo. A indagação quem somos é inseparável de onde estamos, de onde viemos, para onde vamos. Conhecer o humano não é expulsa-lo do universo, mas situa-lo. Como sempre, este trabalho rompe com a fragmentação do conhecimento nas ciências humanas e propõe uma verdadeira reforma do pensamento. O Professor convida-nos a pensar a vida na vida. O sexto Tomo traz o tema da ética: Este sexto e último volume de O Método constituem o ponto culminante da grande obra do Prof. Edgar Morin, aqui faz da complexidade um problema fundamental a ser abordado e elucidado. Neste sexto tomo, o mais concreto e talvez mais acessível, o Prof. Morin parte da crise contemporânea, ocidental, da ética para voltar a ela, ao final, depois de uma análise antropológica, histórica e filosófica do problema. A ética permanece ligada a uma filosofia do espírito. Para a construção de sua teoria ética, o filósofo e sociólogo parte de um conceito de inspiração kantiana, definindo a ética como exigência moral auto-imposta. Mas, em lugar dos imperativos provindos da razão prática (Kant), na Ética da complexidade, o imperativo provém de três fontes, uma fonte interna, análogo à consciência do sujeito; uma fonte externa, simulada pela cultura, pelas crenças e pelas normas pré-estabelecidas na comunidade; e de uma fonte anterior própria à organização dos seres vivos e transmitida geneticamente. A complexidade apresentada por essa ética nos exige uma reflexão sobre quão concernente são as escolhas morais que temos de fazer em nosso cotidiano.

A leitura do Método, do paradigma da complexidade, é um excelente meio para fazer diminuir miopias e cegueiras e abrir a esperança a novos horizontes.A busca do esforço cósmico desesperado que, no ser humano, toma a forma de uma resistência à crueldade do mundo é o que eu chamaria de esperança.

Fonte:
MORIN. Edgar. O Método 1, 2, 3, 4, 5,6 (Coleção). Editora Sulina, 2005.
MORIN. Edgar Meus Demônios. Ed. Bertrand Brasil, 2000. 

Um comentário:

  1. Resumo do livro " O Leviatã".

    O Estado centralizador ainda existe, pois ele esta dividido em duas imagens político-estratégico, que se determina a imagem do príncipe e o outro o próprio "Leviatã" (Homem Artificial).
    A ideia do estado como o leviatã (simbolicamente), vem quando o Napoleão Bonaparte se auto-coroa imperador da frança tomando da mão do papa pio VII, marcando o rompimento do estado com a igreja.

    Helisson 3ºC, Langer, Nº18

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