COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR NARCISO MENDES
TEXTO PARA OS 3 ANOS – 3º Trimestre – Prof. João Bosco
Processo de globalização e suas ambiguidades
O processo de globalização teve
início no século XX, desenvolvendo-se juntamente com o capitalismo. Este
processo, porém, apresenta aspectos positivos e negativos
A globalização se desenvolveu
juntamente com o capitalismo
O século XX foi palco de
inúmeras transformações históricas que marcaram, definitivamente, a organização
do mundo e, dentre elas, está o advento da globalização. Enquanto processo, a
globalização ampliou-se com o desenvolvimento do capitalismo, condição fundamental
para sua dimensão alcançada no final da Guerra Fria entre os anos 1980 e 1990.
Ao final da II Guerra Mundial, o
globo se dividiu em dois blocos, um capitalista – representado pelos Estados
Unidos da América; e outro socialista – encabeçado pela União Soviética. Esse
período conhecido por Guerra Fria foi marcado por uma forte disputa pelo
domínio ideológico entre tais blocos, bem como pela chamada corrida espacial e
tecnológica. Nessa disputa, o modelo capitalista saiu vitorioso, após as
reformas econômicas e políticas promovidas pela União Soviética quando esta já
agonizava, sem condições de manter o projeto socialista e o seu modelo de
Estado de bem-estar-social. Ao final dos anos 1980, caiu o muro de Berlim,
símbolo da divisão do mundo, o que significaria a vitória da ideologia
capitalista. Tem-se, desde então, a configuração de uma nova ordem mundial,
iniciada pela reorganização das relações internacionais no tocante à divisão
internacional da produção, isto é, do trabalho.
Fundamentalmente, a globalização
teve como seu motor a busca pela ampliação dos mercados, dos negócios, isto é,
ampliação das relações internacionais em nome dos objetivos econômicos das
nações. Nesse sentido, é preciso se pensar no papel da ampliação do
neoliberalismo como modelo econômico adotado pelas potências em todo o mundo,
defendido na década de 1980 por líderes como Margaret Thatcher (Inglaterra),
fato que embocou numa redefinição do papel do Estado. Cada vez mais, em nome da
liberdade econômica, os Estados, enquanto instituições que deteriam o poder na
sociedade sobre as mais diversas esferas (como a econômica), vão diminuindo sua
presença nas decisões, tornando-se “mínimos”. Apenas como regulamentador, assim
como os demais agentes econômicos, o próprio Estado também se submeteria às
leis do mercado, preocupando-se com questões como mercado financeiro, balanço
cambial, competitividade internacional, entre outros aspectos do universo do
capital.
Surgiram os chamados blocos
econômicos, como a União Europeia e o Mercosul, para citar apenas dois, os
quais teriam como finalidade criar condições para melhor comercialização entre
seus membros, dada a situação de interdependência das economias. Vale lembrar
que nesse contexto (e desde o final da II Guerra), instituições como a ONU, a
OMC, o FMI, entre outras, têm desempenhado papéis fundamentais nas relações
internacionais no âmbito dos mais diversos assuntos de interesse mundial.
Ainda com relação a essa grande
internacionalização da economia (ampliação do comércio e dos investimentos
externos em países dependentes dos mais ricos), é importante pontuar que todo
esse processo foi acelerado pelo desenvolvimento tecnológico dos meios de
produção (tornando-os mais eficientes) e dos meios de comunicação.
Consequentemente, as transações econômicas internacionais e o mercado
financeiro também se desenvolveriam (hoje, principalmente pela virtualização da
economia pela rede mundial), permitindo que as corporações multinacionais se
proliferassem pelo mundo.
Para além do aspecto econômico
propriamente dito, a globalização possibilitou uma maior aproximação das nações
no que tange à discussão em Conferências Internacionais, por meio de órgãos
como a ONU, acerca de assuntos de interesse geral, como a fome, a pobreza, o
meio ambiente, o trabalho, etc. Um bom exemplo seria como está sendo tratada a
questão da possibilidade da formação de um Estado Palestino em 2011, ou as
questões ambientais.
Já do ponto de vista cultural,
há um processo de sobreposição e aproximação de culturas, costumes, porém com o
predomínio do padrão ocidental, processo este que pode ser chamado de
ocidentalização do mundo. O padrão de vida, os valores, a cultura (música,
cinema, moda) – isso sem se falar no idioma inglês, que é visto como universal
– enfim, direta ou indiretamente representam o poder hegemônico dos Estados
Unidos em todo o mundo. Ao passo em que se tem uma tendência à homogeneização
de valores culturais, tem-se o aumento do processo de intolerância e xenofobia
em países como EUA e França. A questão dos atentados de 11 de setembro de 2001
pode ser um exemplo da intolerância tanto de alguns grupos do Oriente com
relação ao Ocidente, assim como também por parte do Ocidente com relação ao
Oriente, haja vista a forma como os Estados Unidos empreenderam um revanchismo
em nome da “segurança mundial” contra o terrorismo. A despeito da crise
econômica que enfrentam, atualmente os Estados Unidos ainda possuem o poder
hegemônico (embora um pouco abalado) no mundo. Dessa forma, as ideias de
soberania e de Estado-nação ficam reduzidas diante da globalização, pois isso
vai depender do papel que determinado país exerce no jogo da política
internacional, podendo sofrer uma maior ou menor influência, seja ela econômica
ou cultural. A retração e diminuição do papel do Estado com a valorização de
políticas neoliberais e a permissividade ou dependência com relação ao capital
de investidores internacionais são fatores que contribuíram para o aumento da
pobreza e da desigualdade em países mais pobres.
Logo, a ambiguidade da globalização
vem à tona quando se avalia seus efeitos mais negativos sobre a população
mundial, principalmente do ponto de vista econômico. Com a globalização da
economia, as empresas, em nome da concorrência, reduzem custos, diminuindo
vários postos de trabalho, gerando o desemprego estrutural. Além disso, o
desemprego pode piorar quando há um crescimento do investimento no mercado
financeiro (o qual possibilita um retorno maior e mais rápido aos grandes
investidores) ao invés do investimento na produção, esta sim geradora de
empregos. Como se tem debatido atualmente, entre as causas das crises na
economia mundial nos últimos anos (principalmente em 2008) estariam as chamadas
operações financeiras especulativas, as quais tiveram como consequência direta
uma reformulação do papel do Estado entre os países mais ricos, agora mais
intervencionistas do que antes. Buscando amenizar os efeitos nocivos das
crises, as medidas adotadas pelos governos na tentativa do controle do déficit
público e da inflação (juros altos), contribuem para a concentração de renda e
o desemprego, fato que tem levado as populações de muitos países a irem às ruas
manifestarem seu descontentamento.
Assim, sobre a globalização,
pode-se afirmar ser um processo de duas vias: se há avanços por um lado (como
no tocante às relações sociais, ao intercâmbio cultural e à possibilidade de
uma maior troca comercial), há retrocessos pelo outro (como o aumento da
miséria e da desigualdade social, da intolerância religiosa e cultural, a perda
de poder dos Estados em detrimento das grandes corporações multinacionais).
Esperemos o que o século XXI reserva, não apenas a nós, mas também às próximas
gerações.