segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ESCATOLOGIA (INTRODUÇÃO)

ESCATOLOGIA
(Dividiremos este tema em algumas partes para melhor compreensão)


Conceituando...
            Escatologia é uma palavra originada do grego “ESCHATÓN” que significa “ÚLTIMO”. Portanto, literalmente escatologia significa o discurso dos últimos acontecimentos. Já em latim, se traduze por “AS COISAS MAIS NOVAS” ou ainda “AS ÚLTIMAS”.
            Uma das grandes indagações do ser humano sempre foi e continua sendo as perguntas clássicas: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Por isso a escatologia aborda esse universo de questões e acontecimentos que refletem a existência do ser humano neste e no mundo futuro. Portanto, junto às grandes questões da humanidade também se encontram buscas para respondê-las e, a Igreja com sua autoridade dada por Deus dá a todos os seus fiéis as respostas através dos tempos. Levando em consideração as mudanças teológicas, como veremos. Nada mais justo então do que começarmos com a indagação? Que é o homem?

 Que é o homem?

            O salmo 8 já nos faz referência de que o ser humano é importante para Deus, seu criador: “Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?”. E continua manifestando a grandeza do ser humano afirmando que ele é semelhante ao próprio criador: “Pouco abaixo de Deus o fizestes, coroando-o de glória e esplendor; vós lhe destes poder sobre tudo, vossas obras aos pés lhe pusestes”.
            O ser humano é composto assim como da mesma essência divina, espírito, contudo, possui também um corpo no qual entendemos como a morada do altíssimo, o templo do Espírito Santo. “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus”? (1Cor 6,19). Mas o ser humano não é só espírito, ele é também corpo, alma e espirito (divindade).

Que o próprio Deus da paz vos santifique totalmente, e que tudo aquilo que sois – espírito, alma, corpo – seja conservado sem mancha alguma para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!  (1Ts 5,23).
           
Qual a diferença entre alma e espírito? O espírito é um ser dotado de inteligência e vontade, mas sem corpo, sem dimensões materiais, sem forma, sem tamanho, ou seja, é a própria essência de Deus. É o Deus vivo que habita em nós. A alma também é espiritual, também é imortal por si mesma, mas pode ser aniquilada por Deus. O corpo é mortal porque sofre as variações naturais dos tempos, os enfraquecimentos que são próprios da natureza humana. Contudo nos escritos paulinos o termo “espírito” (pneuma) tem diversos significados, podendo ser entendido como Espírito Santo (cf Rm 5,5), como também a graça da vida cristã (cf. 1Cor 2,14ss).
Em cada ser humano há apenas uma alma que é responsável por todas as funções do corpo humano, vegetativas, sensíveis e intelectuais. O ser humano é um só corpo e uma só alma (cf. Ef. 4,1). Embora corpo e alma sejam distintos um do outro, são complementares entre si e formam um só todo psicossomático [1]. A alma precisa do corpo para desenvolver suas potencialidades. No dia da morte, quando serão separados o corpo e alma, ela usufruirá dos valores adquiridos enquanto estava unida ao corpo. E não haverá possibilidade alguma de retorno para expiação [2]. Este é o tempo propício para a salvação, é agora que deveis buscar o encontro com o Senhor, não depois da morte. Para isso serve a reflexão sobre os fins dos tempos (parusia) [3]. O que meditaremos logo mais.
A separação do corpo e da alma não pode ser entendida como dualismo, pois o corpo não pode ser entendido prisão da alma, como algo negativo por ser matéria, conforme vemos na doutrina maniqueísta, órfica, pitagórica ou hinduísta. A doutrina cristã rejeita o dualismo e entende que tanto a matéria como o espírito são criaturas de Deus, e por isso ontologicamente boa (Gn 1,31). Nem por isso a doutrina cristã cai no monismo que identifica entre si matéria e espírito. A doutrina cristã identifica a dualidade, ou seja, a distinção entre corpo e alma, matéria e espírito, sem considerá-los antiéticos entre si, e sim complementares, é assim com a criação do homem e da mulher que não são antagônicos, distintos, mas complementares entre si.
A escatologia individual diz respeito aos acontecimentos que afetarão cada individuo no fim de sua jornada terrestre. A escatologia coletiva compreende a consumação da história e do universo ou os acontecimentos com o fim dos tempos.


[1] Psicossomático - Que concerne simultaneamente ao corpo e ao espírito. Ligado especialmente a fatores de ordem psíquica (conflitos etc.), ou seja, o que é sofrido e sentido no corpo se sente e se vive na alma.
[2] Reparação pela culpa cometida. Ou seja, não haverá retorno nem reencarnações. Uma vez morte só haverá o julgamento divino.
[3] Segunda vinda de Cristo.


Por João Bôsco
(Filósofo, Teólogo, Sociólogo)